Porque é que a evidência científica é importante e qual a melhor forma de a utilizar?
A recolha de informação sobre uma situação é a única forma de compreender o que se passa e como melhorar essa mesma situação. Este tipo de informação é geralmente designado por evidência científica porque fornece evidências sobre o que está a acontecer na realidade. Uma vez que o bem-estar das crianças é complexo e que os direitos da criança são abrangentes, é necessário recolher informações qualitativas e quantitativas e de forma desagregada. As informações qualitativas dão-nos uma visão sobre aspectos que não podem ser recolhidos por estatísticas ou outro tipo de dados quantitativos, por exemplo, a satisfação de uma criança ou família em relação a um determinado serviço, a sua experiência de cuidados ou a qualidade de um processo de comunicação ou educação. As informações quantitativas fornecem informações comparativas sobre a população infantil global, tais como o número de crianças inscritas no sistema de ensino, o número de crianças que têm acesso a cuidados de saúde primários ou o número de crianças que vivem em instituições de cuidados alternativos. Por último, é importante recolher dados desagregados porque nos permite identificar as diferenças entre os grupos etários, o género ou o contexto socioeconómico das crianças, o que ajuda a compreender que grupos de crianças podem necessitar de uma atenção acrescida para garantir que todos têm acesso aos serviços disponíveis e, em última análise, às oportunidades de que necessitam para se desenvolverem.
Nem todos os profissionais que trabalham com crianças serão investigadores ou especialistas de planeamento. No entanto, é útil ter competências básicas de planeamento, especialmente se os profissionais estiverem envolvidos em alguma forma de planeamento, por exemplo, se lhes for pedido que identifiquem ações ou atividades no seu departamento ou contexto. E, se quisermos mudar a vida das crianças, essas acções ou atividades devem ser baseadas nas necessidades reais das crianças. Por conseguinte, precisamos de informação que nos diga quais são, de facto, essas necessidades.
A recolha de dados ou evidência científica deve ser proporcional à atividade de planeamento. Por exemplo, imagine que é um profissional de saúde que trabalha numa unidade de cuidados de saúde primários ou num departamento hospitalar. A sua unidade ou departamento nunca efectuou um inquérito de satisfação dos doentes e pensa que isso é importante, não há orçamento disponível para o exercíciomas ainda assim acreditas que podes mobilizar alguma energia na equipa para pôr em prática algumas ações de mudança. Neste caso, não deverá ser promovido um estudo dispendioso ou um exercício moroso, porque, de qualquer modo, sabes que não haverá dinheiro, por exemplo, para fazer mudanças relacionadas com as infra-estruturas. No entanto, ainda é possível fazer alguma coisa. Uma das tuas opções poderia ser fazer um pequeno questionário às crianças e/ou aos pais/cuidadores no final da consulta ou aquando da alta. Poderás fazer perguntas tais como:
- O que é que mais lhe agradou na sua consulta de hoje / na sua estadia no hospital?
- O que é que não gostou da sua consulta de hoje / da sua estadia no hospital?
- O que é que acha que poderia ser melhorado?
- Achou que os profissionais foram atenciosos?
- Esperou muito tempo até à sua consulta?
- Compreendeu porque é que está doente e o que precisa de fazer para melhorar?
Estes são apenas exemplos de perguntas que podem ser feitas. O inquérito pode ser simples e curto, mas provavelmente ainda assim serão identificadas informações importantes e muitas vezes inesperadas sobre a unidade ou o serviço onde trabalhas. Com base nos resultados do inquérito, podes marcar uma reunião com os teus colegas e, sempre que possível, com o diretor da unidade ou serviço, para discutir e ver o que pode ser posto em prática. Alguns resultados podem ser mais fáceis de pôr em prática do que outros, mas há sempre algo que pode ser alterado para melhorar a experiência das crianças em relação aos cuidados que estão a receber. Se dispuseres de um orçamento específico para os próximos cinco anos, podes planear um projeto mais substancial e, para começar, deverás realizar um diagnóstico de base para iniciar o teu ciclo de planeamento. para mais informação sobre este assunto, lê o artigo Planeamento: Utilizar a Convenção sobre os Direitos da Criança como um quadro para melhorar a qualidade dos cuidados de saúde.