Sê o adulto que gostarias de ter tido contigo quando eras criança

- O que queres ser quando fores adulto?
- Quero ser o adulto que gostava de ter comigo quando era criança.

Pedro Chegas Freitas
In A Banalidade das Coisas Raras

 

Se há segredo para a parentalidade ou para qualquer profissão que nos exija trabalhar com crianças diretamente, ele deve estar algures entre o conseguirmos ser uma mistura do adulto que gostaríamos de ter tido ao nosso lado quando éramos criança e o adulto que a criança que está à nossa frente precisa, tal como ela é. E, em segundo, criarmos as condições para que a criança possa vir a ser um dia aquilo que mais desejamos: feliz, autónoma ou respeitosa – ou outros valores que para nós sejam fundamentais.

Se conseguirmos começar por aqui, já estaremos a fazer um grande caminho. Pensarmos no adulto que gostaríamos de ter tido quando fomos crianças obriga-nos a pensar nas nossas necessidades, no que recebemos, no que não recebemos e no que gostaríamos de ter recebido. Se precisávamos de colo ou um abraço quando tínhamos um pesadelo, talvez seja isso que o nosso filho precisa hoje. Se precisávamos de alguém que nos perguntasse “queres falar ou como te posso ajudar” quando nos sentíamos tristes, talvez aquele aluno calado, que nunca fala com nenhuma outra criança, que fica a um canto só no recreio, também precise de um adulto que o alcance.

Certamente quando cresceste, querias mais que tudo que os teus pais de compreendessem, que os teus professores te vissem e que os teus amigos gostassem de ti por quem eras. Os nossos filhos, alunos, as crianças em cuidados alternativos e todas as outras com quem contactamos também querem que as compreendemos, que as vejamos e que as toquemos de um ponto de vista emocional.
Enquanto pais, mas também educadores, temos desejos e expetativas para os nossos filhos. Se queremos que respeitem o outro, eles têm que crescer no respeito por si. Se queremos que sejam autónomos, temos que criar as condições para que possam explorar e aprender sozinhos. Se queremos que sejam felizes, temos que ser um adulto facilitador de bons exemplos – temos que mostrar como se cuida de nós mesmos, de mostrar como se resolve um conflito, como se respeitam as nossas necessidades, como é que se ouve, para que um dia saibam ouvir; ou como é ser ouvido, para que um dia saibam esperar do outro que o ouçam também.

Não deve haver nada de mais complexo e bonito do que educar e ver crescer uma criança, de a ver tornar-se um adolescente e de a ver florescer enquanto pessoa, toda a sua vida.

Sejamos esse adulto que se questiona e que tenta compreender o outro. Sejamos esse adulto que dá o que lhe é natural, mas também o que requer esforço, simplesmente porque é o que a criança precisa. Sejamos o adulto que vê, guia e apoia com assertividade, mas sem julgamento.

Conforme o Artigo 29 da Convenção sobre os Direitos da Criança, façamos com que:

“A educação (seja destinada) a promover o desenvolvimento da personalidade da criança, dos seus dons e aptidões mentais e físicas, na medida das suas potencialidades.”

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