O meu processo de burnout ou esgotamento está tão ligado ao meu percurso de desenvolvimento pessoal que, por vezes, não sei onde começa um e o outro termina. Eu estava em plena “viagem interior” quando voltei a ter sintomas psicossomáticos, tais como, insónias, perda de memória, dor de cabeça e uma ansiedade generalizada e falta de motivação em relação ao trabalho. Mas, como era hábito, teria continuado em frente se não fosse alguém muito próximo me ter dito: “Ana! Não estás bem, não achas que é tempo de ires ao médico?”
A verdade, é que sozinha nunca teria pensado nessa opção, pois eu estou habituada a fazer, sou o que os ingleses chamariam de uma “doer”, sempre fiz o que havia a fazer e, sobretudo, sempre cuidei de tudo e todos, menos de mim. E, então, já em casa sem trabalhar, o burnout permitiu-me não apenas descansar, mas sobretudo mergulhar a fundo em mim, de perceber como é que tinha chegado ao burnout e, finalmente, de começar a olhar para mim, as minhas necessidades, os meus valores e até, as minhas emoções. O Fabrice Midal descreve bem o que vivi nos últimos tempos:
“Tal como o esgotamento, o stress tornou-se uma palavra que serve para tudo (...) distrai-nos da necessidade de dedicar tempo a compreender o que nos está a acontecer, a encontrar a palavra certa para descrever o que estamos a viver, o que estamos a sentir (...) Se eu fosse uma pedra, não estaria stressado. Mas eu sou humano. E não, não estou "stressado": estou demasiado sensível, estou afetado, estou infeliz, estou comovido, estou em pulgas, estou irritado, estou sob tensão. Se não nomear cada uma destas realidades, se persistir em escondê-las sob uma palavra que deixou de ter significado, não poderei tocá-las, tomar consciência delas para poder, numa segunda fase, superá-las (...) Aquilo a que chamamos "stress" é o rosto da exigência, do compromisso, da vontade de fazer as coisas com seriedade. (...) Dando nome ao que sentimos, encontraremos a forma correta de agir, celebraremos a nossa humanidade. (...) As vossas exigências são a vossa beleza, a vossa dignidade. Continuem a ouvi-las, continuem a nomeá-las, dêem-lhes forma, sejam ambiciosos com a vida, e comprometam-se com elas.” (1)
É estranho, quando já se fez tanto, começar a conhecer-se verdadeiramente aos 41 anos de idade, mas que importa?! Agora posso reescrever a minha história e criar a minha verdadeira identidade. Vou a um ritmo acelerado em relação a certas coisas, noutras demoro mais tempo, bato com a cabeça na porta uma e outra vez, engano-me ou ainda trilho a medo, com demasiado cuidado. Mas, o mais importante de tudo, é estar neste caminho – tão rico de aprendizagens, crescimento e amor.
Obrigado relações tóxicas,
Obrigado esgotamento,
Obrigado vida, por me terem trazido até este momento.
Ana
(1) Fabrice Midal. Suis-je hypersensible: enquête sur um pouvoir méconnu. 2021. Flammarion-Versilio. Traduzido com www.DeepL.com/Translator (versão gratuita)