Eu escrevo melhor em movimento, literalmente. Posso estar em silêncio em casa, sem perturbações, com um bom chá em cima da secretária, a página branca à minha frente e, muitas vezes, nada sai para o papel. Mas então, assim que ponho o pé na rua, sento-me numa esplanada ou apanho um comboio, parece que as palavras, histórias e personagens me assaltam. Viajar então, potencia a inspiração ao máximo e, talvez por isso, desde que me conheço tenha tido o desejo de viajar. Sonhava em tirar um ano depois de acabar a escola secundária para viajar e imaginava-me, mais tarde, a viver um pouco pelo mundo, um ano aqui, três meses ali. Aprenderia a falar várias línguas, a conhecer os costumes locais, faria amigos em cada país e levá-los-ia na minha mochila, para todo o lado. Não viajei como tinha imaginado, mas não deixei de viajar, fui morando em vários países europeus a partir dos 18 anos de idade, para estudar e trabalhar e viajei por outros, a visitar amigos, em caminhadas e, a partir de determinada altura, sobretudo em trabalho.
É bastante particular viajar em trabalho, houve ocasiões em que viajava apenas por um ou dois dias, no contexto de reuniões ou conferências; mas tive também várias viagens de dez dias a três semanas e estas eram sem dúvida as melhores. Nas viagens de trabalho mais longas viajei ou a trabalhar com vários escritórios da UNICEF ou da Organização Mundial para a Saúde e foi um verdadeiro privilégio: trabalhava sempre ao lado de colegas internacionais que estavam no terreno ou com colegas locais, viajava pelos países, entrevistava entidades do país e até famílias e crianças e tive sempre a oportunidade de experienciar a cultura local. A primeira destas grandes viagens foi ao Uzbequistão e ficou para a história. Nunca tinha atravessado a Ásia, nem feito uma viagem tão longa, conhecia pouco sobre a Ásia Central e vivi cada momento da experiência ao máximo. Foi uma viagem única, mas não são todas?! Tenho uma mala cheia de histórias, algumas das quais, a cada vez que revejo os colegas internacionais que me acompanharam, nos relembramos e rimos juntos, sem exceção. Podia contar-vos sobre a viagem de carro a Bukhara, das cólicas, de ser vegetariana num país que só como carne, das visitas que fizemos aos centros de saúde numa região rural; mas o que me marcou acima de tudo, foi o encontro humano, em todas as suas formas.
Fazemos todos parte de algo maior do que nós próprios e podemos partilhar uma ligação humana com as pessoas, independentemente da sua origem. Não precisamos de partilhar a mesma cultura ou língua e viajar nunca deixa de me lembrar que - enquanto seres humanos - somos todos iguais. A viagem ao Uzbequistão consolidou esta crença em mim: de que, simplesmente, fazemos todos parte desta grande família humana.