O tempo, do ponto de vista da Física Quântica, não existe.

De acordo com Carlo Rovelli, especialista em Física Teórica “as equações fundamentais que descrevem o nosso mundo não incluem uma variável de tempo” (1).

No entanto, nas nossas vidas, o tempo é uma realidade constante, palpável e, muitas vezes, dura. Por causa do tempo colocamos despertadores, contrariados cumprimos uma rotina, trabalhamos cinco dias por semana e só folgamos dois. Andamos constantemente à procura de tempo e, cada vez mais, roubamo-lo de nós mesmos, numa roda viva que não para nunca. É, talvez, questão para dizer que somos prisioneiros do tempo. Eu não fui imune a esta prisão, mas, no bom e no mau, tenho vivido autênticos momentos de tempo suspenso.

Houve momentos da minha vida em que encontrei pessoas (poucas, algumas) que têm esse dom raro de fazer parar o tempo quando estou em sua companhia. 

Ou, como diria Moira d’A sociedade dos Sonhadores Involuntários - têm a capacidade de acrescentar tempo ao tempo. 

Tu, és uma dessas pessoas únicas que faz suspender o tempo. 

Ao teu lado, não há espaço nem tempo, só tu e eu nesse momento de partilha e transformação. Nesse momento, há dois - e só dois - corações que batem, um com o outro ao ritmo da música, das palavras e da emoção. Nesse momento, tudo o resto pára. Nesse momento, todas as realidades inventadas pelo homem - a guerra, o dinheiro, as obrigações - todas se calam. Nesse momento somos apenas dois seres humanos, vivemos para a vida, vivemos para sentir, aprender, amar, tocar e ser. 

Também na dor o tempo para. Forçamo-lo a parar, pois de outro modo, como se conseguiria tolerar a tristeza e a solidão? Vivemos, um dia de cada vez, entre a esperança da resolução e a dor que nos invade corpo e coração. Olhamos as horas de longe, em segundo plano, apenas para nos guiarem ligeiramente o dia, para controlar essa vontade de ficar e se deixar invadir pelo sofrimento. Na dor também se suspende o tempo, ocupados que estamos a tentar fazer sentido do que nos aconteceu, mortificados pelos nossos erros, vazios de vontade provocado pela distância do outro. Na dor não há fome, nem sede, nem sono. Na dor há apenas dois corações que batem longe, perdidos do mundo e um do outro.

Ana

 

Excerto d’A Sociedade dos Sonhadores Involuntários de José Eduardo Agualusa

A noite veio deslizando ao longo da encosta da Table Mountain, calando pássaros, acordando cigarras, mas nem eu nem ela nos apercebemos de que o ar se fora esvaziando de luz. Foi só quando Moira se levantou para ir buscar à sala um catálogo da sua última mostra que, de repente, tropeçou na assombrada cegueira do crespúsculo.

- Santo Deus, já é quase noite.

Levantei-me de um salto, derrubando a cadeira. A laranjeira agitou-se e uma minúscula chuva de flores brancas encheu o ar de um perfume doce:

- Desculpe, Moira, não queria tirar-lhe tanto tempo.

Ela estendeu-me a mão:

- Você não é dos que tiram, é dos que acrescentam. Dê-me a mão, que eu levo-o para dentro.

Segurei-me ao brilho azul dos dedos dela, e fui.

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(1) Ephrat Livni (2018) E se o tempo for apenas uma ilusão. Corrier Internacional. Traduzido por Ana Cardoso Pires. Publicado no original em inglês na revista Quartz, Nova Iorque em 17-05-2018.

 

 

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